ou, sobre a chuva que vem de repente
o céu estava aberto e a moça de vestido laranja e sapatos baixos se colocou de pé no ponto de ônibus aguardando veículo que fosse carregá-la ao seu destino. a rua estava movimentada e o comércio ainda funcionava agitado.
aos poucos foi percebendo que o tempo começava a virar. primeiro o vento, em seguida o surgimento ainda tímido de algumas nuvens cinzas. sentiu-se tranquila pois o guarda-chuva estava na bolsa. imagina-se que também pensou consigo "coitado dos despreparados"... disso já não se pode saber com certeza, pois a cena toda era acompanhada a distância, por uma mulher que se debruçou na janela ansiosa pela tempestade que ia passar.
o vento foi ganhando forças e as nuvens carregadas começaram a perder a timidez, formando uma grossa camada que escondia o céu azulado. a chuva se formava de maneira curiosa: parecia uma escola de samba pronta para cruzar a avenida, indo de um ponto a outro, servindo de espetáculo ao público.
a mulher debruçada na janela observava a cena com curiosidade.
a moça de vestido laranja abriu seu guarda-chuva num gesto confiante de quem tenta estar sempre um passo à frente. olhava para os demais pedestres: uns também já haviam aberto seus guarda-chuvas, outros corriam e procuravam abrigo em alguma loja, com a desculpa de estar procurando alguma coisa para comprar, ou debaixo de alguma marquise, sem tanto pudor. aprumou ainda mais seu corpo, como se fizesse um gesto de vitória: "essa tempestade não me pega!"
a chuva grossa começou a cair.
a mulher olhava da janela.
a moça de vestido laranja orgulhava-se da sua precaução em forma de guarda-chuva.
a confiança parecia não ser virtude somente dela. perdendo a timidez, o vento soprava cada vez mais forte e fazia esvoaçar os cabelos e o vestido laranja da moça que começava a se incomodar. o guarda-chuva não a protegia do vento que insistia em levar a tempestade até ela.
num sopro repentino, lá se foi o guarda-chuva e com ele, lá se foi a calma da moça de vestido laranja.
ainda na janela, a mulher observava a cena: parecia impossível, mas a tempestade e o vento ganharam ainda mais força.
ainda na janela, a mulher observava a cena: parecia impossível, mas a tempestade e o vento ganharam ainda mais força.
a moça de vestido laranja - e agora sem guarda-chuva - dá alguns passos incertos na tentativa de recuperar o objeto que lhe foi tomado. distraiu-se a ponto de não perceber que o vento agora agitava mais que a chuva e soltava no ar pequenas folhas e pedregulhos.
recuperou o guarda-chuva que havia caído a poucos metros e a mulher da janela pensou ter notado um pequeno sorriso no canto da boca da moça de vestido laranja que ainda se erguia distraída. tão distraída que não percebeu o que vinha em sua direção: ao se virar, o vento a atingiu em cheio com uma pedrada no peito.
sem graça, curvada e derrotada, a moça de vestido laranja desistiu de esperar pelo ônibus. se pôs rente à calçada segurando seu guarda-chuva em frangalhos, acenou, entrou no táxi e partiu. a mulher da janela pensou: "lá vai ela. certamente chegará ao seu destino, mas aposto: não esperava levar uma pedrada no caminho."
Quando você lê um texto desses que apesar de simples e de fácil compreensão, pode se tornar algo tão complexo quanto a teoria das cordas.
ResponderExcluirEstou perplexa.
eita! <3
Excluirisso na verdade foi um sonho que eu tive, acredita? acordei sem entender nada e quando fui contar para alguém, pensei: "caramba, melhor metáfora da vida!"
Nossa. Realmente uma pedrada dessas a gente nunca espera! Adorei o seu jeito de escrever. Muito bom! Parabéns! ♥.
ResponderExcluirwww.acessopermitido.com
obrigada, elcimar! <3
Excluirnão sou de escrever muitos textos desse tipo, mas curti bastante a experiência.
mar menina, como assim? que narrativa que prende a gente e vai envolvendo, envolvendo...
ResponderExcluirteu blog é todo bonitão, diga-se de passagem. Dá vontade de ficar e continuar olhando tudo.
Beijocas
ô, mafê! obrigada :)
Excluircomo falei ali em cima com a nath, isso na verdade foi um sonho que eu tive e depois, contando pra alguém me dei conta que isso era uma metáfora perfeita para ilustrar a vida da gente! rsrs
Pedrada mesmo quem tomou foi eu lendo esse texto, moça!
ResponderExcluirtão bom ler isso! <3
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